Blog Andando por Aí

Datas comemorativas de março

Vejo março como um mês especial no calendário, por diversos motivos e por características únicas. É aquele mês do ano quando a curva de temperatura sufocante do verão começa a dar sinais de arrefecer, tornando os dias ainda quentes, muito agradáveis, mas não sufocantes. É que em março se inicia oficialmente o outono, este mês tradicionalmente associado como mudanças no clima, na paisagem e no comportamento de bichos e homens.Vejo março como um mês especial no calendário, por diversos motivos e por características únicas. É aquele mês do ano quando a curva de temperatura sufocante do verão começa a dar sinais de arrefecer, tornando os dias ainda quentes, muito agradáveis, mas não sufocantes. É que em março se inicia oficialmente o outono, este mês tradicionalmente associado como mudanças no clima, na paisagem e no comportamento de bichos e homens.
As datas comemorativas são criadas para homenagear categorias, grupos ou pessoas de relevância, para que fiquem vivos na memória e reforcem os seus princípios ou a importância que tem frente à sociedade ou à natureza. Nesse grupo – natureza – tem muitas datas que visam a oxigenar e a enaltecer alguns elementos pela importância que tem para o planeta e para a sociedade.
No dia 20 ou 21, dependendo do ano, comemora-se no hemisfério Sul o início do outono, quando dia e noite têm o mesmo número de horas (equinócio = noites iguais), uma data importante por mudar o clima e o humor das pessoas. É a virada do tempo, quando aqueles dias longos do verão vão cedendo o terreno para que as noites se alonguem, trazendo as pessoas mais tempo para dentro das casas e perto de fogões e lareiras.
Dia 21 é comemorado o Dia Mundial das Florestas, uma homenagem quase constrangedora que se faz, visto que são elas, as matas, que são tidas como grande entrave ao desenvolvimento da sociedade humana. Só no Rio Grande do Sul, quase a metade do território era, no início da exploração pelos portugueses, coberta por diferentes tipos de matas.
Fico me perguntando o que se comemora nessa data, já que floresta é quase um sinônimo de passado, de atraso, de empecilho, de estorvo. Quando estou dentro de uma mata tento, responder a uma pergunta: por que temos que optar entre nós ou ela? Não conseguimos viver sem florestas, mas também não conseguimos viver muito próximos delas. Um paradoxo.
Dia 22 é a vez de se comemorar o Dia Mundial da Água, parecendo que o mês de março é o mês da consciência pesada do homem. Comemorar o Dia da Água, sabendo de tudo o que fazemos com ela é, no mínimo, hilário.
Ver como tratamos esse elemento vital, seja pela indústria ou pela urbe, fica constrangedor comemorar um dia para a água, elemento do qual necessitamos durante muitas horas de todos os dias de nossa existência. Tratar mal uma coisa que tanto necessitamos parece algo insano, mas é verdadeiro. E para arrefecer um pouco, dedica-se a ela um dia.
Dia 23 é a Meteorologia que recebe as homenagens, essa ciência importante que nos antecipa com algumas horas ou dias os movimentos das massas de ar quentes ou frias, que podem trazer ou reter chuvas, ventos e toda sorte de fenômenos construtivos ou destrutivos que bem conhecemos.
Assim seguimos utilizando dos recursos do nosso planeta de forma predatória e excludente, mas para aplacar um pouco o dano, criamos os “dias de...” que, a meu ver, não servem para absolutamente nada, a não ser para mostrar o dano cada ano maior que fazemos aos homenageados.
Para amenizar um pouco o peso desse desabafo, vejo que neste mesmo mês de março se comemora, no dia 26, o Dia do Cacau. Salve o chocolate, que vem adoçar um pouco esta amarga realidade das comemorações internacionais das coisas da natureza!

rio-camaqu-no-rinco-do-inferno---copia.jpg

Rio camaquã no Rincão do Inferno

 

cascata-do-passo-do-s-em-jaquirana-gua-abundante-e-mal-tratada.jpg

Cascata do Passo do S em Jaquirana - água abundante e mal tratada

 

mata-de-araucria-sempre-visada-pela-madeira.jpg

Mata de araucária sempre visada pela madeira

Saindo do verão, entrando no outono

O verão, que acaba de passar o bastão do tempo para o outono, é uma estação de dias longos e noites curtas que estimula atividades ao ar livre, sejam em bares de ruas ou em parques e sítios com churrascos ou piqueniques. Recordo-me do verão por boas lembranças que me fazem pensar que as outras estações do ano, com suas características próprias, são um ensaio para o período dourado desses três meses tão aguardados.

Desse período quente, que se inicia pouco antes do Natal, lembro da boa temperatura do dia que desperta a vontade de tomar banho de rio e deixar o calor do corpo seguir com a água fria; de caminhar de pés descalços pela grama e sentir o carinho dos talos massageando cada centímetro da sola e dos dedos; de sair com uma bermuda e sem camisa sentindo o vento e o Sol queimando o corpo e deixando marcas na pele; de parar embaixo de uma guabirobeira carregada e comer as amarelas, deliciosas e picantes frutas; de sentar sob uma árvore no final de uma tarde alongada pelo horário de verão e sorver um mate de boa erva, uma cerveja no ponto ou um vinho branco gelado; daquelas noites de se dormir sem camisa e sem lençol, desviando do calor da mulher nas primeiras horas e buscando o mesmo no frescor da madrugada; de entrar numa sorveteria sempre lotada e encher um pote grande com sorvete de banana com caramelo e completar com castanha triturada; de pegar o carro bem cedo e seguir para um dos cânions do nosso Rio Grande e passar o dia por bordas e arroios gelados da região; de passear à noite pelas ruas do Centro de Canela e apreciar a decoração natalina ainda exposta, com a efusão de luzes, cores e gente de muitos lugares e sotaques.

Agora começa o outono, um período intermediário que se estende até que o inverno chegue e mostre o rigor da latitude 29 graus sul. O verão, cansado já, passou para o outono a responsabilidade do clima e do tempo, recomendando a ele poucas coisas, já que o controle sobre os elementos naturais é inútil. Algumas folhas de plátanos, cedros e ipês já mostram, na sua cor amarelada, que o ciclo anual está no fim, que agora é se desvestir das folhas e aguardar o frio.

O amadurecimento dos pinhões é o maior bônus do outono, trazendo alimento, energia e vigor para a fauna nativa e para nós, que preparamos inúmeras iguarias com identidade e gosto próprios.

Gosto do outono, como gosto das demais estações, porque tem seus encantos. Ao contrário da primavera, que a tudo faz crescer, o outono a tudo faz parar e aguardar. A cerração que encanta e espanta é outra identidade do outono, apesar de aparecer sem aviso em qualquer outra estação.

A cerração é uma marca do outono.jpg

A cerração é uma marca do outono

 

Cascata do Passo do S, em Jaquirana, convida a um banho no verão

Cerração

 

Pinhão maduro - uma dádiva da natureza oferecida no outono

 

logo retangular

Atenção:
É proibida a reprodução, total ou parcial, dos conteúdos e/ou fotos, sem prévia autorização do autor.