Blog Andando por Aí

A cor e o calor da pimenta

 dedo de moçaPimenta dedo-de-moça

 

A pimenta é a rainha da mesa. Provoca euforia ou desconforto, mas nunca passa despercebida. É um dos ingredientes mais utilizados na culinária, emprestando sempre aquele sabor ardido e quente, mais ou menos acentuado, dependendo do tipo e da quantidade usada. Com sua cor vermelha intensa, verde ou amarela, compõe pratos deliciosos e picantes. Faz estalar os lábios e amortecer boca e língua. Traz aquele prazer oculto e mágico que só a capsaicina, substância mágica presente, em maior ou menor concentração, nas sementes e frutos das diversas espécies, pode proporcionar. Substância ardida, que, ao entrar em contato com a mucosa bucal, provoca uma ação rubefaciente, ou seja, aquela sensação de ardência e calor gerada pelo aumento de circulação sanguínea na área.

As figueiras de São Lourenço

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As figueiras parecem ter sido criadas para oferecer sombra, frutos, aconchego e história. Na sua forma isolada, elas lembram grandes guarda-chuvas colocados aleatoriamente pelo campo ou à beira de lagoas, oferecendo o local perfeito para um acampamento, piquenique, ou ainda um descanso depois de uma longa tropeada. Árvores nativas do Pampa adornam as margens da Lagoa dos Patos e toda a região da planície costeira. Andando pelo município de São Lourenço, no sul do Estado, encontrei algumas carregadas de frutos e histórias.

Pelas ruas de Pelotas

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Como de hábito, levantei cedo e preparei o mate. Só que, dessa vez, estava em um hotel em Pelotas e resolvi fazer o que sempre faço em Canela: caminhar enquanto o sol não afugenta com seu calor e luz forte. Estava no centro da cidade e caminhei pelo calçadão que ali havia e fiquei me deliciando com o que via, por diferente e por inusitado. Um frondoso jacarandá teve que ser aleijado com uma poda radical para permitir a passagem dos fios de energia, parecendo aquelas árvores de montanhas em que os ventos predominantes determinam sua forma atípica, demostrando quem faz o desenho.

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Alguns bancos, no entorno de outras, mostram o dormitório das aves urbanas nos galhos logo acima, local que permite um sono tranquilo, longe dos predadores de solo. Excrementos de vários tipos e formas mostram a importâncias daqueles poleiros para pardais, pombas-de-bando, tico-ticos e rolinhas. O aviso é claro: melhor evitar de passar ou sentar ali à noite. Vejo muitas bromélias agarradas aos troncos e galhos destes velhos e imponentes exemplares. Para provar que não são parasitas, outras se desenvolvem em fios de energia, mostrando que, para elas, basta um local de apoio.

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Ainda é cedo, o comércio está fechado, mas já vejo algumas filas em frente às lotéricas e penso que aquelas pessoas ali estão aguardando a hora de pagar os malditos boletos que insistem em aparecer, na caixa do correio, todos os meses. Maçarocas de dezenas de fios negros se entrelaçam nos postes e se dirigem, cada um, a um endereço, enfiando-se em buracos nas velhas fachadas dos prédios antigos desta parte da cidade. São eles que conectam as pessoas ao mundo, através da moderna tecnologia das redes sociais permitida/facilitada pelo sinal de wi-fi. O moderno e o antigo, vivendo assim sem um perguntar nada ao outro e cada qual realizando, em silêncio, a sua tarefa: um, a de contar a história através da arquitetura e das fachadas carcomidas, o outro, de trazer e enviar, ao mundo, informações.

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Árvores com marcas profundas nos troncos ou aleijadas pela necessidade de cederem espaços aos fios, todas velhas, devem sentir a falta de jovens exemplares que teriam em um bosque. Não entendem que ali, onde foram plantadas, não é uma floresta. Foram colocadas para sombrear e embelezar a dureza das fachadas também aleijadas pelas placas de publicidade, fiação e má conservação. Parece que umas consolam as outras, e a vida segue ali no seu ritmo. Para alegrar mais ainda a caminhada, chego ao ponto de máxima doçura: as lojas dos famosos Doces de Pelotas. Difícil descrever estas delícias, impossível mesmo. Então comprei alguns e trouxe como efêmeras lembranças porque duraram poucas horas, mas seu sabor se esconde em alguma dobra do meu cérebro e diz: “volte e compre mais”. Salve Pelotas, suas ruas e histórias e um saludo especial às suas doceiras e seus doces encantadores.

Pelas ruas de Pelotas

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Como de hábito, levantei cedo e preparei o mate. Só que, dessa vez, estava em um hotel em Pelotas e resolvi fazer o que sempre faço em Canela: caminhar enquanto o sol não afugenta com seu calor e luz forte. Estava no centro da cidade e caminhei pelo calçadão que ali havia e fiquei me deliciando com o que via, por diferente e por inusitado. Um frondoso jacarandá teve que ser aleijado com uma poda radical para permitir a passagem dos fios de energia, parecendo aquelas árvores de montanhas em que os ventos predominantes determinam sua forma atípica, demostrando quem faz o desenho.

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Alguns bancos, no entorno de outras, mostram o dormitório das aves urbanas nos galhos logo acima, local que permite um sono tranquilo, longe dos predadores de solo. Excrementos de vários tipos e formas mostram a importâncias daqueles poleiros para pardais, pombas-de-bando, tico-ticos e rolinhas. O aviso é claro: melhor evitar de passar ou sentar ali à noite. Vejo muitas bromélias agarradas aos troncos e galhos destes velhos e imponentes exemplares. Para provar que não são parasitas, outras se desenvolvem em fios de energia, mostrando que, para elas, basta um local de apoio.

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Ainda é cedo, o comércio está fechado, mas já vejo algumas filas em frente às lotéricas e penso que aquelas pessoas ali estão aguardando a hora de pagar os malditos boletos que insistem em aparecer, na caixa do correio, todos os meses. Maçarocas de dezenas de fios negros se entrelaçam nos postes e se dirigem, cada um, a um endereço, enfiando-se em buracos nas velhas fachadas dos prédios antigos desta parte da cidade. São eles que conectam as pessoas ao mundo, através da moderna tecnologia das redes sociais permitida/facilitada pelo sinal de wi-fi. O moderno e o antigo, vivendo assim sem um perguntar nada ao outro e cada qual realizando, em silêncio, a sua tarefa: um, a de contar a história através da arquitetura e das fachadas carcomidas, o outro, de trazer e enviar, ao mundo, informações.

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Árvores com marcas profundas nos troncos ou aleijadas pela necessidade de cederem espaços aos fios, todas velhas, devem sentir a falta de jovens exemplares que teriam em um bosque. Não entendem que ali, onde foram plantadas, não é uma floresta. Foram colocadas para sombrear e embelezar a dureza das fachadas também aleijadas pelas placas de publicidade, fiação e má conservação. Parece que umas consolam as outras, e a vida segue ali no seu ritmo. Para alegrar mais ainda a caminhada, chego ao ponto de máxima doçura: as lojas dos famosos Doces de Pelotas. Difícil descrever estas delícias, impossível mesmo. Então comprei alguns e trouxe como efêmeras lembranças porque duraram poucas horas, mas seu sabor se esconde em alguma dobra do meu cérebro e diz: “volte e compre mais”. Salve Pelotas, suas ruas e histórias e um saludo especial às suas doceiras e seus doces encantadores.

Diga-me com que andas...

botasAndar pelo campo e matas em busca de imagens e inspiração para escrever exige, além de um pouco de preparo físico, alguns equipamentos para preservar os pés de acidentes potenciais. Um dos mais frequentes é a torção no tornozelo ou estiramento que podem ser devido à utilização inadequada de um bom calçado ou a uma avaliação errada do terreno ao caminhar. Neste último caso, o mais frequente é uma queda que pode ser leve ou severa, trazendo dores e contraturas que duram muito tempo. Nos últimos dez anos, tenho andado por regiões de todo tipo de terreno e enfrentado desafios de muitos tipos. Pés firmes e bem protegidos garantem uma caminhada segura, mas nem sempre confortável. Botas e coturnos são os que utilizo com mais frequência, mas nunca são os mais leves e flexíveis.vito hugo travi by Paulinho

A proteção e segurança dos pés e pernas durante jornadas de algumas horas é fundamental para que se possa, no dia seguinte, seguir o trabalho e a escolha de um equipamento adequado é fundamental. Teoricamente, os melhores são mais caros, mas é possível encontrar alternativas condizentes com valores razoáveis. Pensar em serpentes é uma das minhas maiores preocupações, o que me fez adotar, recentemente, uma bota de borracha de cano longo e mais pesada, mas bem confortável e macia. Andar pelo campo alto, sem enxergar onde se pisa, é uma receita pronta para um acidente ofídico e não há como evitar. Então, bota de cano longo, já que a estatística de acidentes diz que mais de 90% das picadas de serpentes ocorrem abaixo dos joelhos.

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Bastão de caminhada ajuda muito para o equilíbrio, principalmente na travessia de arroios e rios. Outra função importante é a de perscrutar o terreno quando ando por banhados. O bastão ajuda a saber se o terreno é firme ou não, sendo suficiente uma espetada à frente. Utilizo, há anos, um bastão de taquara feito por mim, sem nenhum luxo. Apenas tive a atenção de cortar a taquara no inverno (meses que não tem R) e na lua nova, época em que as plantas estão em repouso maior. Isto evita o apodrecimento da taquara e me garante firmeza e precisão nos movimentos. Já levantei e retirei, das trilhas, serpentes de várias espécies com o bastão, que permite segurança no manuseio destes ofídios peçonhentos e outros que encontro.

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Camisa de manga comprida com bolso para o celular é outro item importante da minha indumentária que me protege do sol e de arranhões. O bolso para o celular, com zíper, é muito útil, já que a maioria das minhas fotos é feita com ele. Sempre à mão e protegido, fica fácil de sacar e guardar permitindo tomadas a qualquer momento. Quando me lembro, utilizo um cordão de segurança que prende o celular, evitando quedas e perdas. Calça folgada com vários bolsos é outro item essencial, já que me permite levar o canivete e alguns itens menores para qualquer precisão. É com estes que ando, e sou aquilo que possuo.

Caminhos do gado

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O gado foi introduzido no Rio Grande do Sul por volta de 1628 pelos Jesuítas lá pela Região Missioneira, bandeado do outro lado do rio Uruguai. Animais até então estranhos a paisagem, trazidos inicialmente da Europa, aqui logo foram se adaptando e ocupando espaços na vastidão dos campos que havia em mais da metade da cobertura vegetal natural do Rio Grande do Sul. Lentamente foram se multiplicando e se espalhando por onde havia pastagem, e aqui pelos Campos de Cima da Serra, no nordeste gaúcho, chegaram também com os Jesuítas quase cem anos depois, fugindo das Missões, uma vez que eram vítimas dos assaltos dos Bandeirantes paulistas que vinham prear escravos indígenas.

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Logo surgiram as fazendas e estâncias de grande porte aqui na região serrana, divididas por quilômetros de taipas de pedras feitas com mãos de escravos negros e índios. Lentamente o gado foi imprimindo uma morfologia típica em alguns lugares acidentados, formados por coxilhas altas e íngremes. Estes animais tem uma tendência de se deslocarem pelas curvas de nível dos terrenos acidentados, economizando a energia que gastariam para subirem ou descerem em linha reta ou em diagonal.

Numa das fotos é possível ver o gado se deslocando pela encosta de uma coxilha alta e as marcas deixadas pelas trilhas paralelas que, vistas de longe, dão a impressão de degraus ou patamares bem nítidos ao longo da encosta. Visões semelhantes, mantidas as proporções, são as dos patamares de plantações de arroz que se veem em países orientais, como China e Tailândia. Quando a necessidade obriga, homens e animais mostram um padrão semelhante de adaptação na utilização dos terrenos adversos. Os orientais pela necessidade de terem terras planas para irrigarem o arroz e aqui os bovinos pela sabedoria de menor esforço diante de um terreno tão adverso.

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Quem anda pelo campo percebe que nestes locais feitos à cascos, com a paciência bovina de anos seguidos, cria-se um caminho perfeito para o deslocamento deles e de pessoas. Profundas as vezes e cobertas pelo capim em outras, são excelentes para uma caminhada pelos costados destas altas coxilhas gramadas.

Uma vez escapei de uma situação perigosa quando caminhava pelos campos da região do cânion Fortaleza, em Cambará do Sul. Fui surpreendido com a chegada repentina de uma cerração densa que me tirou a visão e a orientação. Sentei e fiquei pensando em como voltar, já que não enxergava nem a ponta das minhas botas. Só lembrava que estava indo em direção oposta à da fazenda onde estava. Apalpei o terreno até encontrar uma destas trilhas, virei para a direção contrária e calculei que ela deveria ir até a fazenda ou próximo a ela, um caminho natural dos bovinos. Com a ponta das botas ia identificando o terreno nu e assim fui indo lentamente por mais de uma hora até chegar num local em que o nevoeiro começou a enfraquecer e me mostrou os contornos do galpão e das casas da fazenda. Fui salvo pelos caminhos do gado.

Caminhos do gado

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O gado foi introduzido no Rio Grande do Sul por volta de 1628 pelos Jesuítas lá pela Região Missioneira, bandeado do outro lado do rio Uruguai. Animais até então estranhos a paisagem, trazidos inicialmente da Europa, aqui logo foram se adaptando e ocupando espaços na vastidão dos campos que havia em mais da metade da cobertura vegetal natural do Rio Grande do Sul. Lentamente foram se multiplicando e se espalhando por onde havia pastagem, e aqui pelos Campos de Cima da Serra, no nordeste gaúcho, chegaram também com os Jesuítas quase cem anos depois, fugindo das Missões, uma vez que eram vítimas dos assaltos dos Bandeirantes paulistas que vinham prear escravos indígenas.

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Logo surgiram as fazendas e estâncias de grande porte aqui na região serrana, divididas por quilômetros de taipas de pedras feitas com mãos de escravos negros e índios. Lentamente o gado foi imprimindo uma morfologia típica em alguns lugares acidentados, formados por coxilhas altas e íngremes. Estes animais tem uma tendência de se deslocarem pelas curvas de nível dos terrenos acidentados, economizando a energia que gastariam para subirem ou descerem em linha reta ou em diagonal.

Numa das fotos é possível ver o gado se deslocando pela encosta de uma coxilha alta e as marcas deixadas pelas trilhas paralelas que, vistas de longe, dão a impressão de degraus ou patamares bem nítidos ao longo da encosta. Visões semelhantes, mantidas as proporções, são as dos patamares de plantações de arroz que se veem em países orientais, como China e Tailândia. Quando a necessidade obriga, homens e animais mostram um padrão semelhante de adaptação na utilização dos terrenos adversos. Os orientais pela necessidade de terem terras planas para irrigarem o arroz e aqui os bovinos pela sabedoria de menor esforço diante de um terreno tão adverso.

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Quem anda pelo campo percebe que nestes locais feitos à cascos, com a paciência bovina de anos seguidos, cria-se um caminho perfeito para o deslocamento deles e de pessoas. Profundas as vezes e cobertas pelo capim em outras, são excelentes para uma caminhada pelos costados destas altas coxilhas gramadas.

Uma vez escapei de uma situação perigosa quando caminhava pelos campos da região do cânion Fortaleza, em Cambará do Sul. Fui surpreendido com a chegada repentina de uma cerração densa que me tirou a visão e a orientação. Sentei e fiquei pensando em como voltar, já que não enxergava nem a ponta das minhas botas. Só lembrava que estava indo em direção oposta à da fazenda onde estava. Apalpei o terreno até encontrar uma destas trilhas, virei para a direção contrária e calculei que ela deveria ir até a fazenda ou próximo a ela, um caminho natural dos bovinos. Com a ponta das botas ia identificando o terreno nu e assim fui indo lentamente por mais de uma hora até chegar num local em que o nevoeiro começou a enfraquecer e me mostrou os contornos do galpão e das casas da fazenda. Fui salvo pelos caminhos do gado.

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