Blog Vale do Rio Silveira

Fechando um ciclo.  

Eu

Todo trabalho deve ter início, meio e fim e o projeto Vale do Rio Silveira chegou na sua terceira fase. Foram 96 dias de trabalhos de campo distribuídos durante os anos de 2021 e 2022, totalizando 51 crônicas inéditas sobre a região, as pessoas, suas atividades, a fauna, a flora, o Rio Silveira e seus principais afluentes. Uma coleção de mais de cinco mil fotografias e um mundo que descobri que mudou minha vida, minha percepção e a forma de ver, ouvir, sentir e entender a natureza e o povo que vive aqui e depende dela.

Batatas e brócolis

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Sr. Macedo duarante a colheita em uma de suas lavouras

Por quase todo os locais com terras aráveis no vale do Rio Silveira, encontro lavouras anuais de batatas e, mais recentemente, de brócolis. São duas culturas que se adaptaram muito bem ao clima dos campos altos daqui da região nordeste do Rio Grande, com suas terras negras e virgens numa topografia ondulada e, por vezes bastante dobrada que exige dos agricultores maquinário e técnicas adequadas para terem sucesso. Arar o campo milenar e transformar o que era um tapete com centenas de espécies de plantas em um local com apenas uma espécie, no caso ou batata ou brócolis, é equivalente ao que se faz com o pinus, apenas que a colheita, ao invés de demorar 20 ou 30 anos no caso dos pinheiros, leva apenas uma estação.

Cogumelos e os pinus

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Cogumelo portini, o melhor

As florestas de pinus que, a partir da década de 1970 começaram a surgir na região do nosso planalto, pertencem a espécies de pinheiros originários de regiões ao norte do México e sul dos Estados Unidos e foram escolhidas pela seu rápido crescimento e boa adaptação ao nosso clima serrano. São florestas de uma única espécie e que, por serem pinheiros, não produzem frutos, apenas sementes que, neste caso, são minúsculas. Estas matas, ao contrário das florestas nativas de araucárias, são quase estéreis para a fauna, não oferecendo alimento devido a inexistência de diversidade e pela característica das espécies de produzirem sementes minúsculas. Hoje elas suprem grande parte da demanda de madeira para a indústria e algumas espécies da fauna local já se adaptaram à sua presença, aproveitando as sementes minúsculas e utilizando seu interior como abrigo.

O queijo serrano do Samuel

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Samuel, na sua atividade diária de ordenhar e fazer o queijo

Saborear um queijo artesanal serrano feito no local, com gosto e cheiro de história, é como degustar um vinho debaixo do parreiral que lhe deu origem, ou comer guabirobas recém arrancadas do pé. O queijo serrano tem, assim como os demais, uma identidade que lhe é conferida por um conjunto de fatores ambientais e de manejo do gado, conhecido como TERROIR ou, num bom português – “terroá”. Ele é formado pelo tipo de solo, o regime de chuvas, a altitude do campo em relação ao mar, as variações de temperatura, a alimentação oferecida, a raça do gado e o fator humano fazem a identidade do queijo serrano.

Saboreando a lua cheia

 

Lua cheia CopiaMadrugada no Rio Silveira com a luz da lua cheia

A luz da lua cheia é baça, sutil, intrigante e estimula minhas pupilas a se dilatarem ao máximo, assim como aquelas dos gatos a noite. O belo luar desta noite é apenas o reflexo daquele sol que passou o dia por aqui iluminando tudo e a lua é apenas um espelho refletor, como se o sol a usasse para atenuar a escuridão da noite. Caminhar durante uma madrugada iluminadas pela lua é um dos prazeres quase indescritíveis que tenho e que permite confirmar aquela máxima de que, “a noite, todos os gatos são pardos”. Com a pouca luz que chega aqui, as cores da natureza desaparecem da minha vista. Somem o verde, o vermelho, o amarelo. Tudo fica em tons discretos de cinza que, ora é mais claro, ora mais escuro. Isto tem relação com o nosso olho que está adaptado a enxergar a cores e, para isso, tem que ter muita luz no ambiente. De dia, tudo colorido. À noite, tudo monocromático em tons de cinza.

A Cachoeira do Puma

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Cachoeira do Puma vista pela margem direita. Acesso pela trilha do Xaxim.

Aqui perto da Pousada Cachoeirão dos Rodrigue tem um local denominado Cachoeira do Puma. Fica distante uns dois quilômetros e meio abaixo do Cachoeirão Dos Rodrigues, o ponto mais visitado deste trecho do vale, juntamente com o Desnível dos Rios. Para se chegar até ela, há duas alternativas: pela Trilha do Xaxim, que chega pela margem direita do rio através de uma mata fechada de xaxins: pelo campo, pela margem esquerda, a partir da travessia do Rio Silveira pouco acima do Cachoeirão.

Cactos do Vale do Rio Silveira

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Cacto-bola exibindo suas flores durante a primavera

Os cactos são plantas muito interessantes por vários motivos, sendo um deles a sua adaptação a uma vida em ambientes de pouca água. Nas árvores, como a guabirobeira ou o cedro, as folhas são as responsáveis pela produção de alimento, como açúcares e proteínas, através da fotossíntese. É um mecanismo quimicamente muito complexo que transforma água e gás carbônico em alimento, utilizando a energia da luz solar como propulsora. Mas as folhas também exercem a função de evaporação da água, fazendo o papel de uma bomba que faz a água, vinda do solo através das raízes, circular pela planta. Muitas folhas, muita evaporação, muita perda de água, apesar dos mecanismos existentes para controlar o excesso de perda de água.

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