Blog Expedição Canela em Movimento

Termina a viagem pelas estrada e continua no jornal

 
Data: : Quinta, 26 de Março de 2015 00:00

Cidade: : Canela, Brasil

 
 

Quando uma viagem longa e emocionante termina, o corpo chega ao destino mas a mente continua a viagem, pulando de lugar em lugar, de curva em curva, de uma montanha para um lago, de um deserto para vales férteis, dos rios para os lagos salgados. Tudo isto junto eleva o espírito impedindo que ele voltem junto com o corpo. Assim ainda estou me sentindo 15 dias após o retorno da viagem à Patagônia Argentina. Vou dar tempo para a mente retornar e iniciar uma viagem para outro destino.

 

Conhecer em detalhes a Patagônia, em toda a sua extensão, foi uma experiência facinante e que me fez entender mais um pouco a história do nosso continente. Entendi melhor como a paisagem muda em função do clima, da latitude e dos ventos. 

 

A força emanada das montanhas da Cordilheira do Andes é uma coisa que se sente, não se descreve. Com ou sem neve nos topos, com ou sem vegetação, elas irradiam a magnitude do planeta e suas forças, formas e materiais. 

 

O passado impresso em tintas e formas que desafiam a interpretação do homem hoje, com toda a sua tecnologia, mostra que sempre fomos, de uma forma ou de outra, capazes de transmitir conhecimento ao longo dos tempos. A história não se apaga, ela só tem que ser lida....

 

A fauna nativa, aparentemente mais resistente ao tempo do que nossos ancestrais, estão aí até hoje, como estes guanacos da foto que serviram a incontáveis gerações como alimento e vestimenta de inúmeras tribos de índios patagônicos que já não mais existem ou mudaram de hábitos. Estes camelos demonstram a força e o poder de se manterem autênticos apesar das cercas, ovelhas e os espanhóis de outrora e de hoje, além das perigosas estradas que abatem mais animais do que se pode imaginar. 

 

A viagem segue, agora, pelas páginas do Jornal Nova Época todas as sextas feiras com matérias inéditas por 20 semanas mais. Contarei detalhes e curiosidades que enfrentei, juntamente com meu primo e parceiro Mário Cáceres, a quem devo muito por dividir o tempo de direção na estrada e pelo muito que me ensinou sobre as coisas da Argentina, sua terra natal. Um abraço a todos. Nos encontramos semanalmente no jornal. Abraço.

A viagem está terminando, mas as postagens não

 
Data: : Quinta, 5 de Março de 2015 00:00

Cidade: : Paso de los Libres, Argentina

 
 

Hoje chegamos na fronteira da Argentina com o Brasil, em Passo de los Libres. Amanhã ingressamos no Brasil por Uruguaiana e seguimos, bem traquilos, até Canela. A viagem foi fantástica e superou muito as expectativas Consegui um material muito bom, inédito e que será compartilhado com vocês nas edições do jornal Nova Época, todas as sextas feiras, durante as próximas 22 semanas. Acompanhem mais algumas postagem por aqui e depois apenas no jornal.

 

Foram 30 dias de estadas, parques, montanhas, geleiras, litoral, fauna, flora e tudo o mais que uma viagem de cerca de 14 mil quilômetros podem oferecer. Andamos por mais de 700 quilômetros em estradas de cascalho (rípio, aqui na Argentina), e o resto em asfalto de boa qualidade, com poucas excessões. Não furamos nenhum peneu, não quebramos nenhum vidro, não necessitamos chamar socorro em nenhum momento na estrada e isso nos estimula para a próxima jornada do Canela em Movimento. A Meriva foi valente e teve apenas um "desconforto" no motor e "vomitou" um pouco de óleo, mas nada grave. Enfrentou tudo com bravura nos conduzindo com segurança a todos os lugares. 

 

 

Com a imagens destes guanacos, símbolos de uma Patagônia ainda selvagem, deixamos um saludo a tudo e a todos que encontramos pelo caminho e a vocês que nos acompanharam por este blog. Foi uma experiência única e a parceria do meu primo Mário, Argentino de origem, muito me ajudou na jornada permitindo conhecer mais e melhor o idioma Espanhol e saber das coisas do seu país, contadas por ele mesmo. Valeu Mário, meu companheiro de viagem, apreciei muito todos os teus ensinamentos durante a jornada. 

Devo deixar aqui registrado o apoio recebido inicialmente pela direção do jornal Nova Época, que acreditou na minha proposta da viagem "para ver e escrever sobre ambientes novos". Depois pelo apoio decisivo dos nossos patrocinadores e apoiadores, que viabilizaram economicamente este projeto. Assim, agradeço ao Colégio Marista Maria Imaculada, a Brocker Turismo, a Mãos do Mundo, a Sinoscar e a Casa Guimarães - Gramado por areditarem e apoiarem esta ideia. Um abraço a todos e ficamos em contato.

Mendoza: uma cidade de árvores, canais, grandes praças e vinhos de primeira

 
Data: : Terça, 3 de Março de 2015 00:00

Cidade: : Mendoza, Argentina

 
 

Mendoza é uma cidade surpreendente em muitos aspectos. Fundada no longíncuo ano de 1561, pertenceu ao Chile até 1778 e seu fundador foi Garcia Hurtado de Mendoza. Plana e com ruas bem planejadas, largas de pista e de calçadas e sempre com árvores. Muitas árvores. Consegui indentificar algumas espécies: Plátano, cinamomo e tipuana. As praças são uma atração a parte, e não só aqui. Em todas as cidades que passamos visitamos as praças e percebemos que aqui na Argentina o assunto é tratado muito a sério. São amplas, limpas, arborizadas e muito utilizadas pela população. 

 

Em toda a zona central da cidade existem árvores gigantes fechando as ruas por cima e criando um ambiente muito agradável de sombra, numa terra em que o calor é considerável. Refrescam o verão e, ao perderem suas folhas no inverno, deixam o fraco sol de inverno entrar pelas ruas largas, aquecendo os ânimos. 

 

Em uma cidade em que a quantidade de chuvas de um ano é pouco mais do que a de um mês no Rio Grande do Sul, Mendoza vive praticamente da água que vem do degelo da Cordilheira dos Andes. Por toda cidade se veem canais na calçada por onde circula água para hidratar as árvores e jardins. No momento estão em alerta por causa da diminuição da neve nas montanhas. 

 

Em uma região que responde por 70% do vinho Argentino, há um número espantoso de mil e duzentas bodegas de grande e pequeno porte. O vinho e os espumantes são comemorados em toda a parte, e os preços são muito atrativos. Esta semana inicia aqui, a vindima, a maior festa do vinho da Argentina. 

 

Pipas gigantes de aço inoxidável vieram da França e formam aqui montadas para a produção de espumantes, com base em uvas pinot noir e chardonnay

 

 

Fomos conhecer uma vinícula de grande porte, de origem francêsa especializada em espumantes (foto anterior) e depois uma bodega familiar com 5 gerações da familia produzindo e atendendo os visitantes. Seus vinhos são vendidos apenas aqui nesta bodega. Degustamos várias uvas e ouvimos histórias incríveis da familia.

 

Barris de roble de 35 mil litros cada, vierem desmontados da França direto para Mendoza. Hoje em desuso, fazem parte da hstória da vinícola. 

 

Para encerrar bem o dia ,visitamos uma fábrica de azeite de oliva. O maquinário e as técnicas de prensagem a frio foram bem vistos e entendemos um pouco mais sobre este indispensável acompanhamento de uma boa cozinha. Degustamos vários tipos de azeites puro e com sabores. 

 

Grandes rolos de pedra esmagam as azeitonas com caroço e tudo, formando uma pasta que vai para a prensa e daí sai a base para o azeite extra virgem de primeira prensagem a frio. Já gostava de azeite, agora um pouco mais. 

 

Las Lenãs: lugar de inverno mas que no verão mostra sua verdadeira pele

 
Data: : Segunda, 2 de Março de 2015 00:00

Cidade: : Las Leñas, Argentina

 
 

Hoje seguimos para o norte, em direção a Mendoza, mas fizemos um desvio a esquerda e fomos conhecer Las Lenãs, uma estação de esqui localidade no final de um vale largo e cheio de atrativos. O local é um conjunto de belos hoteis que abrigam esquiadores do mundo todo durante o període de neve, que por aqui cobre tudo por meses. Agora, no verão, é possível ver a "pele" das montanhas de Las Lenãs porque estão sem a cobertura branca e podem mostrar suas cores e formas com mais detalhes. Lugar bom no inverno e bonito no verão. 

 

O Valle do los Molles está no caminho para Las Lenãs e oferece diversos atrativos de inverno aos visitantes do frio.

 

Uma única árvore se desenvolve neste vale árido da cordilheira e é muito bem aproveitada pelas cabras que povoam a região. Sombra e folhas são aproveitadas pelos animais.

 

Uma prática comum na região é a criação de grandes rebanhos de cabras, que se espalham pelo vale aproveitando a pouca vegetação existente neste resto de verão. As cabras são animais muito rústicos que se adaptam muito bem as condições climáticas de extrema seca, como aqui ou como no nordeste do Brasil.

 

Até os cavalos aqui se adaptam as condições extremas do local. Nesta foto eles buscam o pouco verde existente numa encosta de montanha muito íngreme e passível de desmoronamentos. No caso aqui, comer é mais importante.

 

Mesmo no final do verão ainda é possível ver alguma neve residual nos picos mais altos da Cordilheira. Os matizes de cores da base da encosta ficam escondidos pelo branco da neve no inverno. Quem esquia por aqui não imagina a obra de arte que fica oculta pelo branco gelado. 

 

As dobras da montanha, as cores dos minerais e o leve toque do verde da teimosa e resistente vegetação de verão, compõem um quadro digno de um artista da mais alta ategoria. 

Uma viagem no tempo

 
 
Data: : Domingo, 1 de Março de 2015 00:00

Cidade: : Malargüe, Argentina

 
 

Hoje continuamos a viagem para o norte, via Ruta 40. A paisagem mudou radicalmente e os belos lagos e florestas foram substituídos por lavas vulcânicas negras, vegetação rasteira e espinhenta, vales com cores fantásticas produzidas pelos depósitos de minerais vomitados pelos vulcões daqui. Chegamos a um lugar em que o passado geológico está aberto como um grande livro e, suas folhas empilhadas em camadas, desafiam-nos para que sejam lidas e compreendidas.

 

Andamos por onze hora neste domingo, percorrendo 777 quilômetros e mergulhamos numa paisagem cinematográfica. Cones de vulcões são vistos ao longo de toda a estrada, sendo uns maiores, outros menores mas todos olhando para cima e mostrando seu poder, no momento adormecido mas não esquecido. 

 

Solo árido, pouca chuva, pedras, areia e uma vegetação extraordinariamente adaptada a esta severidade do clima. Todas de pequeno tamanho, espinhentas e separadas umas das outras, fator que diminui a competição pelos espaços e escassos recursos de água e nutrientes. Assim é a vida em ambientes extremos.

 

Cortando um pouco a aridez do local, o Rio Grande insiste em escavar a camada de rochas vulcânicas negras, contrastando com a fina areia das margens e formando uma paisagem incomum. 

 

Na localidade de Barbas Blancas a paisagem surprende pelo inusitado de uma placa de sedimentos estar inclinada em mais de 45º, como se formasse um grande escorregador. Ao fundo esta crista emerge parecendo com uma muralha natural. Para a esqueda deste ponto na foto, está o Passo Pehuenche, que leva ao Chile.

 

Nem tudo é aridez pela rodovia. Em alguns lugares encontram-se lagoas pequenas que abrem verdadeiros berços de vida. Aqui era possível ver até marrecas e cisnes-de-pescoço-negra com seus filhotes, uma cena inimaginável neste ambiente predominantemente seco do entorno (veja foto a seguir).

 

A surpresa: um cisne-de-pescoço-negro, ave de áreas úmidas e banhados, como o Taim no Rio Grande do Sul, foi vista aqui ontem criando seus 5 filhotes netas pequena lagoa em meio a um gigantesco deserto. Esta é uma prova de que a água comanda as coisas. Sua presença ou ausência seleciona o que vive e o que não vive em um ambiente. 

 

Escolha a sua cor: os depósitos milenares de sedimentos despejados pelos vulcões imprimem formas e cores que formam cenários nunca vistos. Estão lá, ora nas barrancas das estradas, ora nas encostas dos vulcões e ladeiras de rios. Cabe aos geólogos lerem suas cores e traduzir seu passado para que possamos entender o que o presente nos mostra.

Ruta 40 - uma estrada cênica única: Esquel até San Martin de los Andes

 
Data: : Sábado, 28 de Fevereiro de 2015 00:00

Cidade: : San Martín de los Andes, Argentina

 
 

Hoje tiramos o dia para avançar para o norte, utilizando a Ruta 40, uma estrada que pegamos do início, lá em Rio Gallegos. Ela atravessa de sul a norte a Argentina, costeando a Cordilheira dos Andes. Já percorremos mais de 2 mil quilômetros desta rodovia mas nenhum trecho se igualou a este de hoje, entre Esquel e São Martin de Los Andes. São tantos lagos, montanhas, vales, bosques e planícies que a viagem tem que ser interrompida inúmeras vezes para fotos e contemplação. Impossivel não parar e parar e parar.... 

 

O rio Limay é o vertedouro do gigantesco lago Nauel Huapy, que banha a cidade de Bariloche. Sua água corre para leste e se junta ao rio Negro, desembocando no oceano Atlântico lá em Viedma, onde passamos na ida. 

 

Lagos com cores indescritíveis obrigam a paradas para contemplação. Neste local, perto de Bariloche, ainda se pode ver a fumaça do grande incêndio que ainda não foi controlado. 

 

 

Este trecho da Ruta 40 é muito frequentada por ciclistas, tanto os de fim de semana como os profissionais que percorrem grandes distâncias em suas bicicletas totalmente equipadas. Este casal de europeus estava parando em um dos pontos de observação para um descanso. 

 

Em San Martin de Los Andes tem um bom centro de visitantes e informações sobre o parque Nacional Lanin. 

 

A árvore símbolo deste parque é uma araucária que ocorre apenas aqui nos Andes Argentinos e em alguns lugares altos do Chile. É parente próxima da nossa araucária do sul do Brasil e, em outra postagem, farei mais comentarios sobre ela. 

 

O lago Lácar termina quando inicia a cidade de São Martin. Um lugar tranquilo e cheio de alternativas de esportes de natureza. No inverno tudo se cobre de neve e muda o cenário e a perspetiva de atividades. Lugar para se conhecer, Ruta 40 no trecho Esquel - São Martin de Los Andes. Não tem erro.

 

Um parque enfumaçado, mas de uma beleza única

 
Data: : Sexta, 27 de Fevereiro de 2015 00:00

Cidade: : Esquel, Argentina

 
 

O Parque Nacional dos Alerces foi criado em 1937 com o principal objetivo de proteger uma espécie de árvore exclusiva desta área da cordilheira dos Andes, que é encontrada tanto daqui como do outro lado, no Chile. Esta árvore se chama Alerce e é parente das sequóias do hemisfério norte, na Califórnia - EUA.

 

A estrada que leva ao parque dos Alerces já mostra o cenário que nos espera. Campos e matas de pinheiros vão se espalhando e pintando a paisagem com as cores do verão. Ao fundo, as montanhas com o resto da neve do último inverno, ficam ofuscadas pela fumaça que vem de um grande incêndio que ocorre há mais de 10 dias em uma área fora do parque. Como o vento não tem fronteiras, espalha-se por onde lhe for mais conveniente. 

 

A entrada traz o padrão dos parque daqui: guarita, informações precisas, serviço de banheiro e centro de visitantes. Tudo funcionando. Os R$ 18,00 de entrada são bem investidos e o material de apoio (folheto) entregue auxilia bastante o deslocamento interno, já que a área não é das pequenas: são 263 mil hectares com lagos, montanhas, campos e matas cortados por estradas de cascalho que mostram obras por todos os lados, sugerindo o asfaltamento de todos os percursos. 

 

O lago Futalaufquen é um dos dois grandes que aqui enfeitam a paisagem. Suas margens são tranquilas e as inúmeras áreas de acampamento que existem aqui, aproveitam este elemento natural para banho e contemplação. Com mais de 7.800 hectares de área, este lago atinge uma profundidade de 150 metros e é intensamente utilizado para passeios de barcos pela suas águas tranquilas e frias, com temperatura média de 16ºC. 

 

A cor verde azulada dos rios que unem os diversos lagos impressiona, se não pela cor, pela transparência e limpeza da água. Nesta época do ano o degelo está no fim de seu ciclo e os lagos atingem seu menor nível de água, tornando os rios traqnuilos e convidando a um passeio pelas suas margens e a um banho ou pesca de trutas. 

 

Caminhar por longas trilhas tendo ao lado este rio, compensa qualquer cansaço aplicado ao corpo velho. O silêncio só é cortado por alguma corredeira que grita para chamar a atenção, ou de aves que se espalham pela mata densa.

 

O Alerce, uma árvore de grande porte e idade, pode atingir mais de 2 mil anos e dâmetro de vários metros. Não são muitos os exeplares desta magnífica espécie, mas a simples criação do parque em função de sua preservação já faz com que possamos pensar que as gerações futuras poderão usufruir deste espetáculo da natureza. São árvores parecidas com as sequóias e ambas atingem idades descomunais na natureza, tornando-se verdadeiros testemunhas vivas do tempo.

 

Neste ambiente com muita água fria e límpida, a pesca de trutas é uma das atividades praticadas, além do acampamento selvagem, caminhadas e passeios de barco. Esta foto eu fiz de cima de uma passarela que atravessa o rio Arrayanes e a água é tão límpida que foi possível ver as trutas na correnteza a espera de seu alimento (foto seguinte). 

 

Corredeiras no meio de vegetação e pedras lisas escondem as trutas. Elas ficam de frente para a correnteza, esperando os insetos que são trazidos pela água. 

 

A natureza escondida pela fumaça não acoberta o espetáculo que é este parque, com suas montanhas de até 3 mil metros de altura e um rico sistema de águas que se interligam pelos vários lagos. No final, estas águas correm para o Chile, que faz a divisa oeste do parque, e se derramam no Oceano Pacífico. 

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