Blog Nascentes do Rio Uruguai

O berço do grande Rio

Casal de veado-campeiro descansando em um banhado formador do Rio Sepultura

O Rio Uruguai tem pouco mais de 1.700 quilômetros de extensão, começando na junção do Rio Pelotas com o Rio Canoas, em Barracão - RS. Daí até sua foz no longínquo Rio da Prata, em frente Colônia – Uruguai, e Buenos Aires – Argentina, ele atravessa muita terra vermelha, gargantas rochosas, represas, margens com matas densas ou campos, lavouras e cidades próximas das suas margens, que bebem muito de suas águas.

Um dos arroios que nascem no campo, formador do Rio Sepultura

Decidido a virar para o lado oposto da foz, escolhi os rincões mais remotos que consegui chegar e fui ver de perto alguns dos formadores deste Grande Rio. Embrenhei-me em alguns lugares de acesso difícil e pouco conhecidos do cantão do Rio Grande do Sul, lá no extremo nordeste de São José dos Ausentes. Ali nascem muitos dos pequenos cursos de águas cristalinas que, ao se somarem a outros, vão engrossando o volume, alargando seu curso e formando o Rio das Contas que ali já divide os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Segue o rio incipiente recebendo mais e mais afluentes até virar o Rio Pelotas, sempre em direção oeste, até finalmente transforma-se no grande Uruguai, mais conhecido e derradeiro nome do curso que vai acabar lá no Rio da Prata.

Estou diante de um grande banhado que drena lenta e permanentemente suas águas límpidas e geladas através de um complexo emaranhado de musgos em forma de uma esponja gigante, conhecidas como turfeiras. Posso perceber que a complexidade do sistema de acumulação e liberação de água é o mecanismo eficiente que mantém sempre correndo uma quantidade mínima de água. Lugar difícil de se locomover, por movediço e profundo, fico pelas bordas observando o espetáculo de diversidade de plantas que por ali vivem. Muitas espécies de aves utilizam o banhado como local de alimentação e construção de ninhos, devido a difícil movimentação de predadores. Parece mesmo que os banhados são os guardiões da água, criando toda a dificuldade para que se acesse a ele, como se nas suas profundezas guardasse um valioso tesouro.

Banhado em depressão no campo com suas vegetação característica - turfeira, xaxim-do-campo e inúmeras outras espécies

Os gravatás medram pelas bordas e na primavera e verão o banhado se enche de margaridas e outras flores, que o transforma num verdadeiro jardim gaudério que se estufa de água nas chuvaradas e, como um comedido administrador, vai liberando o precioso líquido aos poucos, para nunca faltar nos mananciais a jusante. Os banhados, alguém já disse, agem como mata-borrões vivos que absorvem grande parte da água das chuvas armazenando e liberando com parcimônia o precioso e vital líquido.

Uma porção de musgos que formam a turfeira, as grandes esponjas das nascentes do grande Rio

Os banhados se assentam sobre pequenas ou grandes depressões do campo e apresenta alguma ou algumas nascentes que mantém sempre o ambiente úmido. As águas destas nascentes escorrem pela calha natural do terreno do banhado e vão seguindo na direção de algum curso maior e ali misturam seu precioso líquido recém-saído das entranhas do subsolo, gelada ainda e com aquele brilho e transparência que encanta e me faz pensar: se este banhado soubesse para onde vai sua água e o que faremos com ela, ele nunca a liberaria. (Segue na próxima semana)

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