Blog Expedição Canela em Movimento

Uma viagem no tempo

 
 
Data: : Domingo, 1 de Março de 2015 00:00

Cidade: : Malargüe, Argentina

 
 

Hoje continuamos a viagem para o norte, via Ruta 40. A paisagem mudou radicalmente e os belos lagos e florestas foram substituídos por lavas vulcânicas negras, vegetação rasteira e espinhenta, vales com cores fantásticas produzidas pelos depósitos de minerais vomitados pelos vulcões daqui. Chegamos a um lugar em que o passado geológico está aberto como um grande livro e, suas folhas empilhadas em camadas, desafiam-nos para que sejam lidas e compreendidas.

 

Andamos por onze hora neste domingo, percorrendo 777 quilômetros e mergulhamos numa paisagem cinematográfica. Cones de vulcões são vistos ao longo de toda a estrada, sendo uns maiores, outros menores mas todos olhando para cima e mostrando seu poder, no momento adormecido mas não esquecido. 

 

Solo árido, pouca chuva, pedras, areia e uma vegetação extraordinariamente adaptada a esta severidade do clima. Todas de pequeno tamanho, espinhentas e separadas umas das outras, fator que diminui a competição pelos espaços e escassos recursos de água e nutrientes. Assim é a vida em ambientes extremos.

 

Cortando um pouco a aridez do local, o Rio Grande insiste em escavar a camada de rochas vulcânicas negras, contrastando com a fina areia das margens e formando uma paisagem incomum. 

 

Na localidade de Barbas Blancas a paisagem surprende pelo inusitado de uma placa de sedimentos estar inclinada em mais de 45º, como se formasse um grande escorregador. Ao fundo esta crista emerge parecendo com uma muralha natural. Para a esqueda deste ponto na foto, está o Passo Pehuenche, que leva ao Chile.

 

Nem tudo é aridez pela rodovia. Em alguns lugares encontram-se lagoas pequenas que abrem verdadeiros berços de vida. Aqui era possível ver até marrecas e cisnes-de-pescoço-negra com seus filhotes, uma cena inimaginável neste ambiente predominantemente seco do entorno (veja foto a seguir).

 

A surpresa: um cisne-de-pescoço-negro, ave de áreas úmidas e banhados, como o Taim no Rio Grande do Sul, foi vista aqui ontem criando seus 5 filhotes netas pequena lagoa em meio a um gigantesco deserto. Esta é uma prova de que a água comanda as coisas. Sua presença ou ausência seleciona o que vive e o que não vive em um ambiente. 

 

Escolha a sua cor: os depósitos milenares de sedimentos despejados pelos vulcões imprimem formas e cores que formam cenários nunca vistos. Estão lá, ora nas barrancas das estradas, ora nas encostas dos vulcões e ladeiras de rios. Cabe aos geólogos lerem suas cores e traduzir seu passado para que possamos entender o que o presente nos mostra.

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