Blog - Os Papapinhões

Pela trilha do uru

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Aqui na RPPN Papagaios de Altitude, em Urupena – SC, tem duas trilhas que são utilizadas para monitoramento da fauna através de inúmeras armadilhas fotográficas para registro das espécies diurnas e noturnas, além de observações sobre a ações destes animais sobre o pinhão e outros comportamentos. Também são trilhas de apoio a ações de Educação Ambiental que servem de subsídios pra ações de conscientização e preservação dos ecossistemas de Campos de Altitude e da Floresta de Araucárias e sua grande diversidade de fauna.

Uru4Flores de brinco-de-princesa

A Trilha do Uru, uma homenagem a ave que tem este nome e que ocorre nas matas do local, é muito interessante devido ao fato de atravessar um trecho da mata de araucárias, um pequeno arroio e terminar na parte alta de um campo limpo e com um visual impressionante. Como o uru, que tem hábitos solitários e vive no solo da mata atrás de alimento e abrigo, fui caminhando com muita calma e com os sentidos afiados para ver, sentir, fotografar e depois escrever. Logo me chamou a atenção a grande quantidade de pinhões pelo solo, denunciando a presença de araucárias fêmeas e com boa produção de sementes. Olhando com mais atenção, vejo que muitos pinhões estão parcialmente descascados e com sua polpa consumida, denunciando que a cadeia alimentar do pinhão está a pleno, como já comentei mais longamente na crônica anterior (A diversidade dos papapinhões).

Uru9Goiabas de tamanho e gosto incomuns

A oferta de alimento por aqui não se limita ao pinhão. A goiaba-serrana é outra estrela que brilha e alimenta a fauna de uma forma incontestável. A cada pouco, vejo um pé de goiaba ao lado da trilha e lá estão elas espalhadas pelo chão ou ainda presa aos galhos, fazendo a festa das aves, roedores e muitos outros comensais. As cascas abertas denunciam o consumo pelos animais de solo e o tamanho de algumas, é quase inacreditável. Os sons inconfundíveis de bandos de tiribas e de papagaios que cruzam por cima da mata em direção a alguma fonte de alimento, alteram com vigor a suave música natural que vinha experimentado.

Uru7Líquen com suas estruturas reprodutoras

Líquens folhosos com suas estruturas de reprodução (apotécios) estão em algumas áreas mais úmidas e sombrias, indicando a época apropriada para a produção de esporos. Em uma curva da trilha, pouco antes do arroio, vejo um brinco-de-princesa florido, flor símbolo do Rio Grande do Sul, exibe uma beleza selvagem e tímida, meio escondida na sombra da mata, mas com toda a exuberância de suas cores e aromas. Um verdadeiro adereço a esta parte da trilha. A paisagem muda quando a trilha atravessa um pequeno arroio. É como se eu fosse transportado para o passado e me encontrasse com as florestas antigas, do tempo dos dinossauros. Xaxins centenários com formas e alturas incomuns, ornam o pequeno vale, escondidos pela sombra dos pinhais e garantidos pela umidade do arroio. Parece que a qualquer momento vou encontrar um dinossauro por entre as folhas, curioso e me olhando tentando reconhecer aquele bicho estranho, nunca visto antes que anda por aqui.

Uru6Xaxins centenários 

Mamicas-de-cadela, com ameaçadores acúleos, parecem dizer que é para manter distância delas; araucárias imponentes, chovem pinhões; samambaias com suas folhas enroladas, dizem que o clima está um pouco seco; cogumelos por todos os lados indicando muito alimento; salvias vermelhas parecem sinalizarem a trilha; bracatingas dizendo de lugares que foram outrora desmatados. Finalmente, como se saísse de um túnel do tempo, chego ao campo do Puma e posso apreciar o céu. Valeu cada passo dado, cada organismo visto, cada cheiro sentido, cada gosto de goiaba-serrana. Não vi o uru, mas isso fica para uma outra vez.

Uru12Campo do Puma, final da Trilha do Uru

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