Blog Destino Atacama

Pelo norte argentino

Flamingos e marrecas numa das margens da Mar Chiquita

Estamos rodando há dois dias, quando cruzamos a inigualável paisagem do centro do Rio Grande do Sul exibida pelo Pampa Gaúcho com suas coxilhas e campos de criação de gado, ovelhas e cavalos. Cruzamos o Rio Uruguai, em Uruguaiana – cidade ribeirinha fundada pelos Farrapos durante a Revolução Farroupilha, e entramos nas planícies imensas do norte argentino, com sua vegetação típica de arbustos espinhentos, com algarobas e espinilhos e vimos grandes áreas planas que se perdem de vista, onde se desenvolvem atividades de pecuária leiteira, produção de frutas cítricas, ovinocultura e monoculturas de milho e soja, principalmente. Chegamos na cidade de Paraná e travessamos para Santa Fé através de um túnel subaquático, o que nos impediu de ver o grande rio Paraná que corre com pressa para o sul, procurando o estuário do Prata e o oceano atlântico para se diluir no sal. Andamos o dia todo enfrentando uma ventania muito forte que nos jogava o carro e exigia muita cautela na estrada. Depois ficamos sabendo, por mensagem do meu mano Felipe, que havia mesmo uma tempestade de vento vinda do sul que fechou até mesmo o aeroporto de Buenos Aires.

Depósitos de sal e lama nas margens da Mar Chiquita

Chegamos a uma cidade chamada Balneária que fica perto de um curioso lugar chamado de Mar Chiquita. Mar é uma palavra que sugere imensidão, lugar sem fim que se perde no horizonte e separa continentes. Pois aqui no norte da Argentina, perto da cidade Córdoba, há um mar pequeno, la Mar Chiquita, um pequeno lago salgado que, curiosamente, não tem uma saída para o mar, tendo apenas muitos afluentes que escorrem para dentro dele, abastecendo-o com água doce e criando o que que os geógrafos chamam de Bacia Endorreica, ou seja, uma bacia que não tem saída natural para o mar. Sua água é salgada e varia de salinidade de acordo com o volume de água doce que recebe dos afluentes. Este lago salgado, localizado no interior do continente americano, é resultado do erguimento de placas do subsolo que aprisionaram a água, criando uma grande barreira natural sem saída, sendo a evaporação a grande responsável pela redução da água doce. Os sais minerais trazidos pelos afluentes vão se depositando e salinizando a água. Observa-se nas suas margens depósitos de sal e lama negra que tem poderes terapêuticos, atraindo pessoas que tomam o famoso banho de barro, que se diz curativo para enfermidades da pele.

Por dentro do túnel que liga as cidades de Paraná e Santa Fé

Mar Ciquita é, portanto, um balneário muito atraente e com boa infraestrutura que abriga uma comunidade que recebe turistas e veranistas para férias de verão, muitos atraídos pelas altas temperaturas da estação e pela lama terapêutica, fruto da mistura de sais e lodo trazido pelos rios tributários e ali aprisionada, já que não há uma saída para a água, a não ser pela evaporação. O local também é um grande criadouro natural de flamingos e outras aves aquáticas, devido a presença de pequenos crustáceos e peixes adaptados a salinidade variável da água. Amanhã seguiremos para Córdoba e suas serras.

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