Blog Destino Atacama

Os camelos americanos

Um rebanho de lhamas sendo conduzido por um pastor em Santo Antonio de los Cobres, Argentina

Os camelos são sempre associados com sol, desertos, pouca água, dificuldades para sobreviver e carregamento de gente e mercadorias através de áreas inóspitas. Os camelos mais conhecidos são, para muitos, aqueles do norte da África que vagam em caravanas pelas areias do Saara, conduzidos pelos Árabes nômades que riscam aquele famoso deserto buscando os poucos locais de afloramento de água para manter a vida. Estes grandes camelos têm patas largas para não afundarem nas areias, podem passar muito tempo sem beber e resistem ao sol escaldante e ao frio congelante das noites do deserto, sem maiores problemas.

Um guanaco solitário entre os cactos gigantes do Parque Nacional Los Cardones, em Payogasta, Salta - Argentina

Aqui na América do Sul existem quatro espécies de camelos nativos, todos menores e distribuídos por uma ampla área geográfica que vai da Patagônia austral aos desertos gelados do centro e norte da Cordilheira dos Andes. O império Inca, que dominava ampla área da América do Sul, não utilizava a roda como a conhecemos, que nos serve para milhares de funções, como a de facilitar o transporte através de um carro. Assim eles dependiam de uma espécie de camelo, as Lhamas, para o transporte de cargas por longas distâncias. Domesticada há muitos séculos, as lhamas ainda hoje convêm aos nativos de diversas regiões altas e frias da Cordilheira, servindo não só como animal de carga, mas principalmente como fornecedor de lã e carne. Criam-se rebanhos de lhamas como aqui no Rio Grande do Sul se criam rebanhos de ovelhas. Comi um bife à milanesa de lhama e vi apenas que a carne é um pouco mais clara, sendo o gosto muito semelhante àquela do gado. Roupas de lã de lhama são muito comuns aqui no deserto, e os nativos e turistas se enfeitam com mantas, blusas, cachecóis e luvas desta fibra animal que é também tingida de várias cores.

Uma vicunha em pleno deseto do Atacama, Chile. 

A outra espécie de camelo que anda por aqui é o guanaco, mais raro e que tantos rebanhos eu vi na Patagônia, ao sul de Buenos Aires, quando fui a Terra do Fogo. Alguns rebanhos selvagens, com poucos indivíduos, vagavam entre os cactos gigantes do Parque Nacional los Cardones em Payogasta – Salta, Argentina, pastando calmamente o pouco que o deserto oferecia no forte deste inverno. Permitiram uma aproximação cautelosa entre os cactos que me ocultavam, e pude ver a paciente rotina de encontrar brotos e algumas folhas secas daquela rala vegetação que, mesmo não parecendo, mantém aqueles herbívoros saudáveis.

Andando na Cordilheira acima dos três mil metros de altitude, nos imensos platôs que formam o Bioma Puna, vi as primeiras Vicunhas, a menor das espécies americanas de camelos e que vivem exclusivamente neste local alto e seco. Por possuírem uma lã extraordinariamente fina e que aquece muito, foi quase extinto em função da exploração descontrolada de seu pelo. Hoje é um animal protegido por lei no norte do Chile e no Peru e a sua lã é a mais cara e fina do mundo, chegando a custar centenas de dólares uma única peça de roupa. Como diz meu amigo Luiz Patrucco, a lã de vicunha é tão fina que um pala passa por dentro de uma aliança, fato que atesta sua autenticidade.

Não encontrei, nesta viagem, a Alpaca que é a quarta espécie destes camelos nativos, já que sua maior concentração é no Peru, local em que ainda não estive. Vida de camelo não é fácil e encarar o calor do dia, debaixo de um sol espetacular que se exibe em um céu sempre limpo e azul, e o frio congelante das noites limpas do Atacama, é para os fortes. Admirável é a adaptação dos animais e plantas a estes ambientes extremos, onde a água pode ser um item de luxo encontrado raramente na forma líquida, fresca e abundante que tanto conhecemos.

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