Blog Destino Atacama

Um Bioma chamado Puna

Puna chilena com neve, a palha-brava espalhada em touceiras e o imponente vulcão Licancabur, com seus 5.916 metros, a esquerda. Ícones deste ambiente. 

Os Biomas são aquelas grandes áreas geográficas que tem algumas características de fauna, de flora, de localização e de morfologia que as tonam únicas, facilmente identificáveis. No Rio Grande do Sul existem dois Bioma, dos seis que se espalham pelo Brasil. Um deles é o Pampa, com suas extensas áreas ao sul do rio Jacuí, esticando até a fronteira com o Uruguai, com planícies, coxilhas suaves, vegetação típica de campo e rios com matas nas margens, conhecidas Matas de Galeria. Ao norte do rio Jacuí impera o Bioma Mata Atlântica, onde há, ou havia, o predomínio da floresta densa, tanto a de araucárias como a outra mata que recobre os vales mais baixos. É aqui no Rio Grande que o Bioma Mata Atlântica termina, este longo e destroçado ambiente, parceiro da costa atlântica que corre daqui até o Rio Grande do Norte, sendo que foi o primeiro a ser desbravado pelos portugueses que descobriram nele o valioso o pau-brasil. É também aqui no Rio Grande que começa o Pampa, que cobre praticamente toda a metade sul do nosso Estado e se espalha por todo o Uruguai, parte do Paraguai e na Argentina vai até o vale do Rio Colorado, ao sul de Buenos Aires, quando entrega o bastão geográfico para outro Bioma, a Estepe da Patagônia. Nós, gaúchos, fomos brindados com estes dois sistemas naturais e neles desenvolvemos nossa cultura.

Salinas, montanhas, frio, altitude e um deserto que permite a vida a poucas plantas e animais. Esta é a Puna

Nesta viagem que fiz ao deserto do Atacama tive a oportunidade de conhecer um bioma novo para mim, um lugar de difícil acesso e de uma beleza incomum. Falo do Bioma PUNA, palavra originária do idioma indígena Aymará que significa Altura, estende-se pela área central da cordilheira dos Andes em platôs acima de 3 mil metros de altitude e abaixo dos 5 mil, ocupando territórios da Argentina, Bolívia e Chile. Ar rarefeito, limpo, seco, horizonte bem definido por ondulações de montanhas agudas e vulcões com depósitos permanentes de neve nas suas encostas, ausência absoluta de árvores e com uma vegetação rala e esparsa de uma planta chamada palha-brava, entre outras poucas. Raros são os animais da Puna e entre eles pude registrar a vicunha, este belo e ameaçado camelo americano, dono da lã mais fina, quente e cara do mundo. Na Puna que atravessei, de Salta na Argentina até São Pedro do Atacama, no Chile, o que mais me impressionou foi o silêncio do lugar. Sempre que parávamos o carro para uma foto ou para compra de algum artesanato indígena, a ausência de sons naturais cria uma atmosfera de outro planeta, de um lugar absolutamente vazio, sem vento, sem gente, sem bichos. Na verdade a Puna tem vida, pouca mas tem. Ali vivem algumas plantas que suportam o severo clima seco e o solo salgado ou salitrado, fatal para a maioria da vegetação e a palha brava é uma destas espécies que consegue suportar a altitude, o frio, a seca e a salinidade presentes neste imenso planalto. Não vi, mas a chinchila é outro animal nativo desta região e devido ao seu pelo e pele de alta qualidade, é criada em cativeiro para fins comerciais. Vejam que as melhores peles e melhores lãs do mundo estão em espécies nativas daqui: a chinchila e a vicunha. Parece que a altitude e a rudeza do clima presentearam estes animais com este pala de alta qualidade.

Desafiando a lógica, as vicunhas conseguem sobreviver bem neste ambiente inóspito e espetacular da Puna. 

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