Blog A Borda

Morando na Borda

Vista do litoral de Santa Catarina, em uma manhã antes do nascer do sol.

Como é a experiência de morar numa borda de cânion? É isso que vou tentar transmitir aqui numa sequência de crônicas que iniciam hoje. Para entrar no clima e na vibração do lugar estou escrevendo de frente para o cânion da Coxilha, em São José dos Ausentes, e ouvindo a rádio que todos ouvem na região: a Nevasca FM, de São Joaquim – “o som mais campeiro do seu rádio” que entra rachando aqui no container. Também pego algumas emissoras de Santa Catarina, da região de Araranguá. Gosto de ouvir as rádios locais para conhecer mais a fundo a cultura e os hábitos dos lugares e das pessoas.

Estou aqui há uma semana e já pude ver e sentir bastante as imposições do clima e dos 1.226 metros de altitude em que me encontro. Situado a menos de um quilômetro ao sul do Monte Negro, local mais alto do Rio Grande do Sul, (região onde realizei um trabalho que intitulei “Um ano no topo do Rio Grande” que pode ser lido e visto no meu site www.vitorhugotravi.eco.br), tenho a vista mais ampla voltada para o sul e leste. O que comanda minha atividade aqui é justamente o clima, severo e diferente de outros locais próximos pela proximidade com borda do Planalto. Como o local é alto, as mudanças de tempo aqui são frequentes e rápidas, podendo passar de um dia de sol pleno para um dia encoberto pela cerração em questão de minutos, como aconteceu agora enquanto escrevo. Some a paisagem e o branco se impõe e pode durar alguns minutos, horas ou até dias.

O container e sua localização na Borda do Planalto, ao sul do Monte Negro, em S. J. dos Ausentes 

O container onde estou instalado é bastante confortável e tem todos as coisas que necessito: cozinha completa, sala com mesa e sofá cama, duas cadeiras, tanque e despensa, um quarto, um banheiro e uma área coberta com a vista para o cânion. Água vem de vertente e tem energia elétrica da rede, uma boa internet via satélite e a companhia de fauna, flora e da paisagem que é de tirar o fôlego. Único inconveniente do container é a sua cor vermelha, que eu preferiria que fosse azul... Tem um conforto térmico muito bom devido ao isolamento que foi feito e para segurar o frio utilizo de uma lareira que está bem no centro, aquecendo todos os ambientes. Ainda é verão, mas à tardinha e a noite faz frio por aqui, e o fogo é um parceiro incondicional. Lenha não falta e muito menos grimpas para iniciar o fogo, estalando e liberando seu odor característico de pinho.

A rádio Nevasca FM agora fala da próxima festa da maçã e dos trabalhos da colheita desta fruta que está em pleno andamento. Música gaudéria embala o espírito aqui nas manhãs e finais de tarde e, nos intervalos, o locutor faz alusões a formas de se combater a mosca-das-frutas, inseto que traz grandes prejuízos a cultura da maçã.

Detalhe da localização do contâiner

Como fazem os graxains, já mijei em todos os quatro cantos do terreno para marcar minha presença por aqui. Não sei para onde vai o lixo seco que é recolhido na cidade, então prefiro queimar por aqui, dentro de um buraco, tudo que não é de metal ou vidro. Os restos orgânicos da cozinha que não tem muito tempero, deixo para os bichos, os outros, enterro. É a minha forma de tentar chegar ao lixo zero. Evito plástico ao máximo e procuro alimentos frescos da região mesmo, dentro das possibilidades e disponibilidades.

Este projeto só está sendo viável devido aos apoios que estou tendo de diversas empresas e amigos. Destaco o Açougue e Mercearia Gallas, Pampeana Produções Ambientais, Mario’s Rice e a Fisiovet Veterinária que me permitem esta introspecção num mundo diferente, sem horários e barulhos. Espero corresponder através destes relatos que iniciam hoje.

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