Blog A Borda

Caminhando pelo rio

Pequeno cânion próximo a nascente do Rio Do Marco, mostrando o leito raso e rochoso do rio

Com o dia amanheceu limpo e com o sol estimulando aqui pela Borda, resolvi andar pelo leito do Rio do Marco até sua nascente. Este é o rio mais próximo da minha casa e avisto uma parte dele aqui da área. Manhã cedo, tempo limpo e estimulante, café tomado e feito com um iogurte vindo direto da Estância Tio Tonho, granola, castanha de caju e mirtilo fresco colhido aqui perto, tracei o caminho pelo campo e segui desviando banhados e cercas até chegar na cascata que é formada por um mini cânion, bem no meio do campo. Água limpa, rasa com o chão de pedras com algas e musgos, procurei chegar ao poço da cascata, escondido entre uma pequena mata e o paredão rochoso. Poço pequeno, raso e que me mostrou uma verdadeira obra de arte formada pela espuma branca carregada pelo movimento circular e lento da água que aqui reboja. Um quadro pintado em preto e branco. Fiquei ali um tempo apreciando o desenho mutante, como uma garatuja feita pelo rio que é oferecido a quem se aventura chegar até este poço.

Remanso no poço da cascata do rio do Marco, com desenhos feitos de espuma

Segui o rio acima da pequena cachoeira, sempre pelo seu leito raso, e vi bandos de chupim-do-brejo, de caranchos e gaviões-carrapateiros empoleirados nos topos do pequeno desfiladeiro, parecendo espantados pela inusitada visita, e logo alçavam voo escondendo-se em alguma dobra do terreno. No final do desfiladeiro o rio se estreita bastante, diminuindo o seu volume e passa a correr pelo campo aberto. Sigo pelas suas margens, ora pela direita, ora pela esquerda, já que pelo leito agora fica difícil por ter muitos poços, e vejo muitos caranchos empoleirados nas pedras de uma coxilha. Pareceu-me um local preferencial para eles. Havia muitos pousados e outros sobrevoando os arredores, misturados com alguns chimangos e carrapateiros. Imagino que por ali deve haver muito alimento para estes bandos de predadores.

Segui o rio, agora transformado em um pequeno filete de água, e chego finalmente no local de onde ele emerge: um grande banhado com turfeiras que se estende numa grande depressão do terreno, drenando a água de forma lenta e constante. Sempre pensando em encontrar um veado-campeiro, por que o meu amigo Pablo Vieira me falou ter visto um no dia anterior, quando cavalgava com turistas por aquela região, segui a borda do banhado em direção a uma coxilha mais alta. Mais a frente notei que havia algum animal pouco definido e que não me parecia ser nem vaca nem boi, e fui chegando perto até me certificar que era mesmo um veado-campeiro. Ele não me viu e acabou se deitou no capim, bem tranquilo. Segui andando muito lentamente até que divisei outro, também deitado, próximo do primeiro. Pareceu ser um casal. Andei mais um pouco até que este último me viu, levantou rápido e disparou coxilha acima, seguido logo pelo outro. Foi um momento de muita satisfação ver os dois deitados, tranquilos e em seguida, perturbados por mim, dispararem campo fora até sumirem da vista atrás de uma coxilha.

Casal de veado-campeiro que encontrei no banhado da nascente do Rio do Marco

Feliz e com alguns registros fotográficos feitos, que compartilho aqui, retornei para casa pensando que há ainda lugares para se ver um rio nascer e perceber que alguns grandes animais ainda resistem a todo o impacto da pecuária e das lavouras que se desenvolvem aqui significando, para mim, que se pode chegar a alguma forma de equilíbrio delicado entre a exploração dos ambientes naturais e a manutenção da vida selvagem nativa. Foi um dia muito interessante, tanto pelo local de surgimento de um rio, como pelo encontro dos campeiros. A Borda tem muitas surpresas.

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